Siglas:
SC – SACROSANCTUM CONCILIUM, Constituição
sobre a Sagrada Liturgia, 1963.
AVLB – ANIMAÇÃO DA VIDA LITÚRGICA NO
BRASIL, dos. 43 da CNBB
CDAP – Celebrações dominicais na ausência do
presbítero.
MEDELLÍN – Documento da II Conferência Episcopal
Latino-America, realizada em Medellín/Colombia, em 1968.
PUEBLA – Documento da III Conferência Episcopal
Latino-America, realizada em Puebla/México, em 1979.
Para entender o Mistério Pascal de Cristo...
Fato 3
Era
sábado. Airton Franco, 32 anos, vidraceiro, morador da Vila Segurança, casado
com Maria Vicentina, pai de Michel e Maurício, a pedido do patrão foi levar uma
encomenda de material para um freguês a 150 Km de distância. Nem deu tempo para
se despedir da esposa e filhos. Numa curva fechada da estrada, a kombi
derrapou... Horas depois, Airton foi encontrado morto.
Domingo,
às 17h00, na igreja da comunidade, na celebração do enterro, o animador saúda a
todos, solidariza-se com a família e diz: “Estamos reunidos, hoje, com o
coração apertado pelo luto, mas fortalecidos pela esperança, para celebrar o
Mistério Pascal de Cristo, vivido, assumido e celebrado pelo nosso companheiro
Airton”.
Por que o animador falou desse jeito?
Sim,
de fato, desde menino, Airton foi um rapaz marcado pela pobreza. Morou em
barracos. Foi discriminado por causa da sua cor negra. Mas sempre soube lutar.
Trabalhou. Era membro ativo na comunidade, no grupo de jovens, no grupo de
famílias, na associação de moradores e ainda ajudava na liturgia da comunidade.
Foi um homem profundamente sensível com os doentes e pobres. Era conhecido e
amado no bairro.
Airton
não se deixou vencer pelas dificuldades e
opressões. Não se acomodou. Sonhou com um dia de liberdade e igualdade
para todos. As palavras de Jesus, lidas na celebração de enterro, foram verdadeiras
em sua vida: “Tive fome e me destes de comer; estava com frio e me vestistes; estava doente e me visitastes...”
(Mt 25, 31ss). A comunidade reunida, no final de uma tarde de sol, despediu-se de Airton, celebrando o
Mistério Pascal de Cristo realizado e acontecido em sua história de 32 anos,
bem vividos porque doados pelo bem, dedicados à família, consagrados ao Deus da
vida e da liberdade. Esta prática e doação foram os marcos da vida de Jesus. Jesus continuou a
sua missão na vida de Airton e Airton fez comunhão com fé em sua comunidade
terrena.
Dona
Maria Vicentina, viúva, cercada pelos amigos e pela comunidade, com voz grave e
pausada, rezou o salmo 129, quando o caixão era fechado pelo amigos: “Eu espero
em Javé... confio na tua palavra... minha alma aguarda o Senhor mais que os
guardas pela aurora...”
A
nossa vida nesta terra é passageira. Estamos aqui de passagem. Isto é, a nossa
vida é uma permanente páscoa, passagem para o Senhor. O nosso coração aguarda,
espera, busca o Senhor... Vamos encontrando o Senhor no dia-a-dia, na doação
aos irmãos, na luta pela sobrevivência, na organização dos companheiros, na solidariedade com as
pessoas...
A
comunidade, no enterro de Airton, celebrou mais uma vez a vitória de Jesus
Cristo sobre o egoísmo, o racismo, a
divisão, a fome, a injustiça... O Plano
de Deus, anunciado e celebrado por Jesus
Cristo, foi mais forte que os planos dos
homens mentirosos e exploradores... A comunidade louvou o Pai pela sua
manifestação na vida de Jesus Cristo, também, percebida e vivida por Airton.
A
celebração da comunidade é sempre a celebração da memória da vida de Jesus
nesta terra e sua morte, ressurreição e ascensão ao céu. Na celebração, Jesus
Cristo está presente com seu projeto de resposta ao Pai, realizado e plenificado. O Espírito
Santo atua na comunidade reunida,
provoca nela os sentimentos e a proposta de Jesus. Move o coração das pessoas
para que elas compreendam, assumam e
coloquem em suas vidas as respostas e as práticas de Jesus no meio desta
sociedade competitiva, violenta e ferida pela
injustiça.
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Fonte: Caderno 3 – A Celebração Dominical da
Palavra na Comunidade. Em Coleção: Como animar as celebrações
dominicais da Palavra. Diocese de Chapecó/SC, 2007, p. 6-8.
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