“Para levar Deus aos homens e homens a Deus”

segunda-feira, 5 de maio de 2014

9. O Mistério Pascal de Cristo (3ª parte)

Siglas:
SC – SACROSANCTUM CONCILIUM, Constituição sobre a Sagrada Liturgia, 1963.
AVLB – ANIMAÇÃO DA VIDA LITÚRGICA NO BRASIL,  dos. 43 da CNBB
CDAP – Celebrações dominicais na ausência do presbítero.
MEDELLÍN – Documento da II Conferência Episcopal Latino-America, realizada em Medellín/Colombia, em 1968.
PUEBLA – Documento da III Conferência Episcopal Latino-America, realizada em Puebla/México, em 1979.

Para entender o Mistério Pascal de Cristo...


Fato 3

Era sábado. Airton Franco, 32 anos, vidraceiro, morador da Vila Segurança, casado com Maria Vicentina, pai de Michel e Maurício, a pedido do patrão foi levar uma encomenda de material para um freguês a 150 Km de distância. Nem deu tempo para se despedir da esposa e filhos. Numa curva fechada da estrada, a kombi derrapou... Horas depois, Airton foi encontrado morto.

Domingo, às 17h00, na igreja da comunidade, na celebração do enterro, o animador saúda a todos, solidariza-se com a família e diz: “Estamos reunidos, hoje, com o coração apertado pelo luto, mas fortalecidos pela esperança, para celebrar o Mistério Pascal de Cristo, vivido, assumido e celebrado pelo nosso companheiro Airton”.

Por  que o animador falou desse jeito?
Sim, de fato, desde menino, Airton foi um rapaz marcado pela pobreza. Morou em barracos. Foi discriminado por causa da sua cor negra. Mas sempre soube lutar. Trabalhou. Era membro ativo na comunidade, no grupo de jovens, no grupo de famílias, na associação de moradores e ainda ajudava na liturgia da comunidade. Foi um homem profundamente sensível com os doentes e pobres. Era conhecido e amado no bairro.

Airton não se deixou vencer pelas dificuldades e  opressões. Não se acomodou. Sonhou com um dia de liberdade e igualdade para todos. As palavras de Jesus, lidas na celebração de enterro, foram verdadeiras em sua vida: “Tive fome e me destes de comer; estava com frio e me  vestistes; estava doente e me visitastes...” (Mt 25, 31ss). A comunidade reunida, no final de uma tarde de  sol, despediu-se de Airton, celebrando o Mistério Pascal de Cristo realizado e acontecido em sua história de 32 anos, bem vividos porque doados pelo bem, dedicados à família, consagrados ao Deus da vida e da liberdade. Esta prática e doação foram  os marcos da vida de Jesus. Jesus continuou a sua missão na vida de Airton e Airton fez comunhão com fé em sua comunidade terrena.

Dona Maria Vicentina, viúva, cercada pelos amigos e pela comunidade, com voz grave e pausada, rezou o salmo 129, quando o caixão era fechado pelo amigos: “Eu espero em Javé... confio na tua palavra... minha alma aguarda o Senhor mais que os guardas pela aurora...”

A nossa vida nesta terra é passageira. Estamos aqui de passagem. Isto é, a nossa vida é uma permanente páscoa, passagem para o Senhor. O nosso coração aguarda, espera, busca o Senhor... Vamos encontrando o Senhor no dia-a-dia, na doação aos irmãos, na luta pela sobrevivência, na organização dos  companheiros, na solidariedade com as pessoas...

A comunidade, no enterro de Airton, celebrou mais uma vez a vitória de Jesus Cristo sobre o egoísmo, o  racismo, a divisão, a fome, a injustiça...  O Plano de Deus, anunciado e  celebrado por Jesus Cristo, foi mais forte que os planos dos  homens mentirosos e exploradores... A comunidade louvou o Pai pela sua manifestação na vida de Jesus Cristo, também, percebida e vivida por Airton.

A celebração da comunidade é sempre a celebração da memória da vida de Jesus nesta terra e sua morte, ressurreição e ascensão ao céu. Na celebração, Jesus Cristo está presente com seu projeto de resposta  ao Pai, realizado e plenificado. O Espírito Santo atua  na comunidade reunida, provoca nela os sentimentos e a proposta de Jesus. Move o coração das pessoas para que elas compreendam, assumam e  coloquem em suas vidas as respostas e as práticas de Jesus no meio desta sociedade competitiva, violenta e ferida pela  injustiça.

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Fonte:  Caderno 3 – A Celebração Dominical da Palavra na Comunidade. Em Coleção: Como animar as celebrações dominicais da Palavra. Diocese de Chapecó/SC, 2007, p. 6-8.

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